Esmeralda (nau)

Coordenadas: 17º 31' N 56º 03' E

Esmeralda
Esmeralda (nau)
   Bandeira da marinha que serviu Reino de Portugal
Construção Ribeira das Naus
Período de serviço 1498–1503
Comandante(s) Vicente Sodré
Estado Naufragada
Destino Naufragada em 1503 durante uma tempestade.

Esmeralda foi uma nau portuguesa, que pertencia à Carreira da Índia e estava incluída na 2ª armada de Vasco da Gama. Comandada por Vicente Sodré, terá naufragado em maio de 1503, matando todos os tripulantes a bordo[1] ao largo da ilhas de Curia Muria. Com ela, a São Pedro, comandada pelo irmão de Vicente, Brás de Sodré, tios maternos de Vasco da Gama. O navio foi descoberto em 2016. [2] [3] [4]

Depois da sua descoberta foram recuperadas várias preciosidades arqueológicas do navio, incluindo sinos, canhões e discos de cobre com a marca da família real portuguesa. Foi nos destroços do Esmeralda que foi encontrado, em 2013, o segundo exemplar conhecido da moeda de prata criada por D. Manuel especificamente para o comércio com a Índia.

O astrolábio, datado de 1498, e criado em Portugal é considerado o mais antigo astrolábio do mundo recuperado. Mede 175 milímetros, pesa 344 gramas. Para além de antigo, o astrolábio é muito raro: existem apenas 104 exemplares criados no mesmo estilo, o Sodré[5].

História

Em 1501, a 2ª Armada da Índia, comandada por Pedro Álvares Cabral finalmente regressou da Índia, e começaram imediatamente os preparativos para a montagem de uma nova armada da Índia, a ser enviada em 1502, novamente sob o comando de Cabral. Vicente Sodré foi nomeado pelo Rei D. Manuel I de Portugal como o primeiro Capitão-mor do Mar da Índia, ou seja, comandante da primeira patrulha naval portuguesa no Oceano Índico.

Vicente Sodré recebeu um regimento real , instruindo-o a patrulhar e atacar os navios árabes na foz do Mar Vermelho .

A patrulha de Vicente Sodré foi designada para ir para a Índia como um esquadrão distinto da 4ª Armada de 1502, e permanecer para trás em patrulha.

No entanto, Sodré insistiu que o seu regimento fosse independente - isto é, que o almirante da 4ª armada, Pedro Álvares Cabral , não tivesse qualquer autoridade sobre a sua esquadra durante a viagem. O rei D. Manuel I de Portugal , que tinha grandes dúvidas sobre a competência de Cabral, concordou. Cabral achou essa condição humilhante e resignou de almirante-mor da Armada da Índia. Vicente Sodré ajudou então a garantir a nomeação de seu sobrinho, Vasco da Gama,para substituir Cabral como almirante da 4ª Armada.

No novo regimento, Vasco da Gama permaneceria no comando do esquadrão de Sodré apenas até a Índia, após o qual a nova armada da Índia comandada por Sodré teria a sua autonomia total.

No dia 10 de Fevereiro de 1502, partia de Lisboa a 4ª Armada da Índia, 2º Armada comandada por Vasco da Gama. a nau Esmeralda era a nau-capitânia da esquadra de Vicente Sodré, almirante da Esquadra da Índia.[6]

Com ele, iam mais 14 naus e posteriormente, haveriam de se juntar à armada cinco caravelas que saíriam de Lisboa a 1 de Abril do mesmo ano. [6]

Nesta armada, iam os tios maternos de Vasco da Gama. Vicente Sodré, capitão da nau Esmeralda e Brás Sodré, capitão da nau São Pedro. Depois da armada chegar à Índia, a missão dos irmãos Sodré era de destabilizar o comércio árabe na região e destruir a concorrência a um domínio português no Índico. Fariam isso afundando, apresando e/ou queimando as frotas locais que não se submetessem a estes.

A patrulha naval foi ordenada por Vasco da Gama para permanecer perto da costa indiana e proteger as fábricas portuguesas em Cochim e Cananor .

Depois de fazer escalas na Ilha de Moçambique e em Quiloa , a armada chegou à Índia em setembro de 1502, envolvendo-se em várias ações ao longo da costa indiana no final desse ano.[6]

Em março de 1503, assim que a 3ª Armada de Vasco da Gama deixa a Índia, Vicente Sodré invocou sua hierarquia como almirante da frota e liderou a parulha através do oceano, para o Golfo de Adem , para atacar os navios mercantes árabes, também conhecidos por zambucos, que entravam e saíam do Mar Vermelho. Eles fazem isso com sucesso e capturam 6 navios mercantes. Como esperado, em março de 1503, o Zamorin de Calicut chegou antes de Cochin com um exército de 50.000, e tomou e incendiou a cidade. Os feitores portugueses, junto com o governante de Cochim, conseguiram escapar para a ilha vizinha de Vypin . Eles continuaram resistindo até agosto, quando a próxima armada chegou.

Naufrágio da nau Esmeralda e a nau São Pedro, de Vicente Sodré e Brás Sodré respetivamente. (in Livro das Armadas, 1568)

Durante o cerco de Cochin, a patrulha de Vicente Sodré não acudiu. Ele foi primeiro para o norte, para Gujarat , onde capturou um grande navio mercante ao largo de Chaul . A patrulha então navegou para o oeste no Golfo de Aden , na foz do Mar Vermelho , para pegar mais prêmios.

Apesar do sucesso inicial, os capitães das restantes naus eram contra a ideia de deixar a costa indiana, e as futuras feitorias portuguesas de Cochim e Cananor desprotegidas. [6]

Depois da demonstração de falta de experiência de Vicente Sodré para comandar uma patrulha, e depois dos irmãos Sodré terem começado a reclamar grande parte das pilhagens dos navios mercantes para si mesmos, os capitães das restantes naus quase se amotinaram contra o seu comando. A 30 de abril de 1503, a frota, enquanto ancorada nas ilhas de Cúria Muria, foi avisada pelos moradores sobre um tufão e que era melhor moverem seus navios para uma parte protegida da ilha. Todos os outros navios, excepto as comandadas pelos irmãos Sodré, a Esmeralda e a São Pedro, foram ancorar do lado sul da ilha. Durante a tempestade, a Esmeralda perdeu a âncora e foi impelida contra as rochas no fundo do leito da costa. Depois de danos graves no seu casco, e na entrada rapidíssima de água, a nau Esmeralda naufragou em meros instantes, levando por isso a vida a todos os tripulantes a bordo, incluindo a do seu capitão Vicente Sodré. Seu irmão, Brás Sodré, acabou por morrer depois em circunstâncias desconhecidas.[7][8]

Pêro de Ataíde, o capitão-chefe recém-nomeado pela morte do almirante e sota-almirante, conseguiu retornar à Índia com 150 sobreviventes, e escrever uma carta para Portugal a noticiar a morte dos irmãos Sodré e da perda da nau Esmeralda e São Pedro.

Astrolábio recuperado dos destroços da "Esmeralda"; Museu Nacional de Oman

Os destroços, porém, só seriam reecontrados em 1998.

A nau Esmeralda foi localizada em 1998 e foram estudados os seus destroços exaustivamente desde 2013 a 2018. Nos destroços foram encontrados, entre outros, o cano de um arcabus, antecargas de canhão e columbrinas, um astrolábio datado de 1498 e é considerado o mais antigo astrolábio do mundo recuperado. Mede 175 milímetros, pesa 344 gramas.[9]

No entanto, o maior achado terá sido a recuperação do segundo exemplar conhecido da moeda "índio" moeda portuguesa cunhada em 1499, no reinado de D. Manuel I, especificamente para o comércio na Índia.[10][5]

Referências

  1. «Visão | A nova epopeia da nau Esmeralda». Visão. 31 de março de 2016. Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  2. Jornal Expresso (14 de março de 2016). «Navio português incluído na armada de Vasco da Gama descoberto em Omã». Jornal Expresso. Consultado em 17 de outubro de 2017 
  3. Diário de Notícias (16 de março de 2016). «A nau 'Esmeralda' foi de facto descoberta? As pistas e as dúvidas». Diário de Notícias. Consultado em 17 de outubro de 2017 
  4. Diário de Notícias (15 de março de 2016). «Esta poderá ser a mais antiga nau portuguesa descoberta». Diário de Notícias. Consultado em 17 de outubro de 2017 
  5. a b «O astrolábio mais antigo do mundo é português» 
  6. a b c d Relação das náos e armadas da India com os successos dellas que se puderam saber, para noticia e instrucção dos curiozos, e amantes da historia da India: (Brit. Library, Cód. Add. 20902). [S.l.]: UC Biblioteca Geral 1. 1985 
  7. Correia (p.370) dá a entender que Ataíde na verdade ficou com os irmãos Sodré no lado norte da ilha, em vez de seguir os outros capitães para o sul. Seu navio foi encalhado pela tempestade, mas sobreviveu.
  8. Ataide, p.263; Subrahmanyam, 1997: p.231
  9. Palma, Tiago. «Descoberto em Omã astrolábio que pertenceu a nau naufragada de Vasco da Gama». Observador. Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  10. «Moeda "O Índio" - José Caldas». Google Arts & Culture. Consultado em 3 de fevereiro de 2021